sábado, 22 de outubro de 2011

Visitas Noturnas





É onírica, 
é pesadelo de Goya
a desejada visita

Desde um abraço sonhado
desde meu calor epidérmico
deste teu forte rubor

Enfim!
vem o sono da razão
despertar-nos a carne

São dois o mesmo desejo,
é de ambos o mesmo sonho
ficando dentro de um quadro

A visita,
que se dorme sem querer,
querida,
detém-se na composição, estrutura
que então se perpetua e
fascina
pra não se concretizar.

Mas instalam-se na pele
minha excitada impressão digital
tua impressionada excitação genital
que se acabam
em águas mornas
quando nos acordamos
eu em minha cama
tu na tua

Nessa líquida fronteira
entre sono e vigília
percebemos, ainda quente,
pergunta perfumada no ar:
quem visitou quem?

              
                [a partir de “A Visita”, nanquim sobre papel de Gil Vicente, 1998]