quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Pumpkin Time


Pumpkin time is here again, 
Time to play trick or Treat. 
Pumpkin time is here again, 
Our Spooky friends we'll meet .


See the costumes we have on, 
Monsters, ghosts, goblins too. 
See the costumes we have on, 
Hear us all shout "BOO!"


                [Anónimo]

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Tempo de Poesia


Todo o tempo é de poesia

Desde a névoa da manhã
à névoa do outo dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia

Todo o tempo é de poesia

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas qua amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.

                   António Gedeão

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Demora

O amor nos condena: 
demoras 
mesmo quando chegas antes. 
Porque não é no tempo que eu te espero. 

Espero-te antes de haver vida 
e és tu quem faz nascer os dias. 

Quando chegas 
já não sou senão saudade 
e as flores 
tombam-me dos braços 
para dar cor ao chão em que te ergues. 

Perdido o lugar 
em que te aguardo, 
só me resta água no lábio 
para aplacar a tua sede. 

Envelhecida a palavra, 
tomo a lua por minha boca 
e a noite, já sem voz 
se vai despindo em ti. 

O teu vestido tomba 
e é uma nuvem. 
O teu corpo se deita no meu, 
um rio se vai aguando até ser mar. 

                   Mia Couto
                   in " idades cidades divindades"

sábado, 27 de outubro de 2012

Exageros


O Espírito

Nada a fazer amor, eu sou do bando 
Impermanente das aves friorentas; 
E nos galhos dos anos desbotando 
Já as folhas me ofuscam macilentas; 

E vou com as andorinhas. Até quando? 
À vida breve não perguntes: cruentas 
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando 
Ave estroina serei em mãos sedentas. 

Pensa-me eterna que o eterno gera 
Quem na amada o conjura. Além, mais alto, 
Em ileso beiral, aí espera: 

Andorinha indemne ao sobressalto 
Do tempo, núncia de perene primavera. 
Confia. Eu sou romântica. Não falto. 

                   Natália Correia
                   in “Poesia Completa” 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

7

Eu não sou eu nem sou o outro, 
Sou qualquer coisa de intermédio: 
    Pilar da ponte de tédio 
    Que vai de mim para o Outro. 

                Mário de Sá-Carneiro
                in 'Indícios de Oiro'

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Ruinas



Pandeiros rôtos e côxas táças de crystal aos pés da muralha. 

Heras como Romeus, Julietas as ameias. E o vento toca, em bandolins distantes, surdinas finas de princezas mortas. 

Poeiras adormecidas, netas fidalgas de minuetes de mãos esguias e de cabelleiras embranquecidas. 

Aquellas ameias cingiram uma noite peccados sem fim; e ainda guardam os segredos dos mudos beijos de muitas noites. E a lua velhinha todas as noites réza a chorar: Era uma vez em tempo antigo um castello de nobres naquelle lugar... E a lua, a contar, pára um instante - tem mêdo do frio dos subterraneos. 

Ouvem-se na sala que já nem existe, compassos de danças e rizinhos de sêdas. 

Aquellas ruinas são o tumulo sagrado de um beijo adormecido - cartas lacradas com ligas azues de fechos de oiro e armas reais e lizes. 

Pobres velhinhas da côr do luar, sem terço nem nada, e sempre a rezar... 

Noites de insonia com as galés no mar e a alma nas galés. 

Archeiros amordaçados na noite em que o côche era de volta ao palacio pela tapada d'El-rei. Grande caçada na floresta--galgos brancos e Amazonas negras. Cavalleiros vermêlhos e trombêtas de oiro no cimo dos outeiros em busca de dois que faltam. 

Uma gondola, ao largo, e um pagem nas areias de lanterna erguida dizendo pela briza o aviso da noite. 

O sapato d'Ella desatou-se nas areias, e fôram calça-lo nas furnas onde ninguem vê. Nas areias ficaram as pègadas de um par que se beija. 

Noticias da guerra - choros lá dentro, e crépes no brazão. Ardem cirios, serpentinas. Ha mãos postas entre as flôres. 

E a torre morêna canta, molenga, dôze vezes a mesma dôr. 

                       Almada Negreiros
                       in 'Frisos - Revista Orpheu nº1'

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Algumas Coisas

A morte e a vida morrem 
e sob a sua eternidade fica 
só a memória do esquecimento de tudo; 
também o silêncio de aquele que fala se calará. 

Quem fala de estas 
coisas e de falar de elas 
foge para o puro esquecimento 
fora da cabeça e de si. 

O que existe falta 
sob a eternidade; 
saber é esquecer, e 
esta é a sabedoria e o esquecimento. 

                 Manuel António Pina
                 in "Aquele que Quer Morrer"

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Fui Sabendo de Mim

Fui sabendo de mim 
por aquilo que perdia 

pedaços que saíram de mim 
com o mistério de serem poucos 
e valerem só quando os perdia 

fui ficando 
por umbrais 
aquém do passo 
que nunca ousei 

eu vi 
a árvore morta 
e soube que mentia 

                  Mia Couto
                 in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Esta gente

Esta gente cujo rosto 
Às vezes luminoso 
E outras vezes tosco 

Ora me lembra escravos 
Ora me lembra reis 

Faz renascer meu gosto 
De luta e de combate 
Contra o abutre e a cobra 
O porco e o milhafre 

Pois a gente que tem 
O rosto desenhado 
Por paciência e fome 
É a gente em quem 
Um país ocupado 
Escreve o seu nome 

E em frente desta gente 
Ignorada e pisada 
Como a pedra do chão 
E mais do que a pedra 
Humilhada e calcada 

Meu canto se renova 
E recomeço a busca 
De um país liberto 
De uma vida limpa 
E de um tempo justo 

                Sophia de Mello Breyner Andresen

               in "Geografia"

domingo, 21 de outubro de 2012

Onde Nasceu a Ciência e o Juízo?

MOTE 

— Onde nasceu a ciência?... 
— Onde nasceu o juízo?... 
Calculo que ninguém tem 
Tudo quanto lhe é preciso! 

GLOSAS 

Onde nasceu o autor 
Com forças p'ra trabalhar 
E fazer a terra dar 
As plantas de toda a cor? 
Onde nasceu tal valor?... 
Seria uma força imensa 
E há muita gente que pensa 
Que o poder nos vem de Cristo; 
Mas antes de tudo isto, 
Onde nasceu a ciência?... 

De onde nasceu o saber?... 
Do homem, naturalmente. 
Mas quem gerou tal vivente 
Sem no mundo nada haver? 
Gostava de conhecer 
Quem é que formou o piso 
Que a todos nós é preciso 
Até o mundo ter fim... 
Não há quem me diga a mim 
Onde nasceu o juízo?... 

Sei que há homens educados 
Que tiveram muito estudo. 
Mas esses não sabem tudo, 
Também vivem enganados; 
Depois dos dias contados 
Morrem quando a morte vem. 
Há muito quem se entretém 
A ler um bom dicionário... 
Mas tudo o que é necessário 
Calculo que ninguém tem. 

Ao primeiro homem sabido, 
Quem foi que lhe deu lições 
P'ra ter habilitações 
E ser assim instruído?... 
Quem não estiver convencido 
Concorde com este aviso: 
— Eu nunca desvalorizo 
Aquel' que saber não tem, 
Porque não nasceu ninguém 
Com tudo quanto é preciso! 

                       António Aleixo
                       in "Este Livro que Vos Deixo..."