sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Veio Ter Comigo Hoje a Poesia

Veio ter comigo hoje a poesia. 
Há quantos anos? Desde a juventude. 
Veio num raio de sol, num murmúrio de vento. 
E a ilusão que me trouxe de uma antiga alegria 
reinventou-me a antiga plenitude 
que já não invento. 

Fazia-lhe outrora poemas verdadeiros 
em fornicações rápidas de galo. 
Hoje não sou eu nunca por inteiro 
e há sempre no que faço um intervalo. 

Estamos ambos tão velhos — que vens fazer? 
— a cama entre nós da nossa antiga função. 
Nublado o olhar só de a ver. 
E tomo-lhe em silêncio a mão. 

                    Vergílio Ferreira
                    in 'Conta-Corrente 1'