domingo, 17 de fevereiro de 2013

O Velho




Velho,
sem retovos,
genuíno
na retina dos espelhos.
Só o velho é sempre novo
porque o novo imita o velho!
Mesmo a guitarra é sofrida
se é o novo que a embala
sem a vivência das mãos...
O velho, não...
O velho a toma no colo
e com a vida nos olhos
tece carícias de amante
pra encantar a solidão.
Não existe velho, velho
pois a geada nos cabelos
é só mais um documento
assinado pelo tempo.
Os dias se acumulam
tingindo de luz o velo...
O moço que muda o mundo,
Que de todo viveu tudo
só então pode ser velho.
Os anos são que nem livros
guardando sabedoria
pras futuras gerações,
e a memória, um arquivo
onde quem sabe estar vivo
vai buscar informações.
Por isto é preciso fibra,
por isto é preciso zelo,
não é porque o corpo cimbra
que um homem fica velho.
Há tanto guri já velho
e tanto velho, guri...
Tanto moço absorto
que nem sabe que está morto
mas já deixou de existir...
Há tanto guri já preso
Nessas drogas por aí
E tanto velho bem teso
ensinando ao desprezo...
A arte de ser guri.
Velho não é o morto
mas é tudo que está pronto,
o que a vida aperfeiçoou...
Pois é somente a vivência
que vai moldando a experiência
para transpor os estorvos.
É na idade mais nobre
que o moço velho descobre
que só o velho é o novo.
Veja o exemplo das vinhas
sorvendo luz das auroras
pra cor que o vinho vai ter.
Guardando a brisa que toma
para aviar o aroma
que vai gerar o buquê.
Formando com o sol e chuva
todo o segredo da uva
que vai amadurecer.
E tudo só para a messe...
Pois só depois que envelhece
é que o vinho vai nascer.
O novo nasce do velho
Em tudo quanto se cria,
na música, na poesia
nesse modismo do povo...
O velho nunca envelhece
pois sempre reaparece
pra novamente ser novo.
O moço é a vaidade
Em busca da perfeição,
A coragem, o fascínio,
É a força sem domínio
É a chama da paixão.
O velho, não...
O velho é o esplendor,
é vinho que está maduro,
a ciência que o futuro
a gente faz no presente
é mais amor que desejo
por saber sentir num beijo
o que só um velho sente...
O velho é vida repleta,
é a obra já completa,
é a vivência total,
a total sabedoria
de se viver cada dia
como se fosse o final.
Feliz do moço mais belo
que conheça algumas rugas,
pois a vida não se aluga
ela é um dom de Deus...
Feliz do moço que chega
onde a idade se aconchega
Num par de olhos nublados.
onde a vida nos ensina
a anda pelos escuros...
Que importa não ver futuro
quem, mesmo, de olhos fechados
enxerga todo passado
onde escreveu sua história.
É bom que se deixe escrito
que ser moço é ser bonito
mas ser velho é uma vitória!

        Vaine Darde