sexta-feira, 19 de outubro de 2012

S. LEONARDO DE GALAFURA


 
proa dum navio de penedos,
navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.
 
 não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasostodos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
 
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
terra e a rosmaninho!
 
                            Miguel Torga
                           Diário IX, 1964.