sábado, 27 de outubro de 2012

O Espírito

Nada a fazer amor, eu sou do bando 
Impermanente das aves friorentas; 
E nos galhos dos anos desbotando 
Já as folhas me ofuscam macilentas; 

E vou com as andorinhas. Até quando? 
À vida breve não perguntes: cruentas 
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando 
Ave estroina serei em mãos sedentas. 

Pensa-me eterna que o eterno gera 
Quem na amada o conjura. Além, mais alto, 
Em ileso beiral, aí espera: 

Andorinha indemne ao sobressalto 
Do tempo, núncia de perene primavera. 
Confia. Eu sou romântica. Não falto. 

                   Natália Correia
                   in “Poesia Completa”